

Estudo internacional indica que domicílio foi o local de morte mais frequente na maioria dos países estudados, mas Portugal foge à regra
Comunicado
event 3 de janeiro 2024
Foi publicado hoje na revista eClinMed (grupo Lancet) um importante estudo, liderado pela investigadora portuguesa Bárbara Gomes, sobre tendência no local de morte em 32 países entre os quais Portugal.
Este é o maior estudo internacional da área, e o primeiro a mostrar o impacto da pandemia COVID-19 nesta tendência. Os resultados demonstram que domicílio foi o local de morte mais frequente na maioria dos 32 países estudados, mas não em Portugal. Ao contrário da maioria dos países, onde se constata um aumento gradual da percentagem de mortes em casa, Portugal continua a fugir à regra, com exceção dos portugueses com doença oncológica.
Enquanto noutros países se refletem medidas de reforço às equipas domiciliárias de cuidados paliativos, para que cada vez mais se consiga suportar esta tendência e o apoio especializado em fim de vida, em Portugal continuamos com várias regiões desprovidas de qualquer apoio por este tipo de equipas, sem as quais o planeamento e acompanhamento adequados nesta fase da vida se tornam praticamente impossíveis.
Durante a pandemia, e enquanto se sensibilizava para a permanência das pessoas em casa, foram várias as equipas de cuidados paliativos que foram desagregadas, e vários os profissionais desta área que foram destacados para outros serviços. A ausência de acompanhamento adequado levou, entre outros possíveis fatores, a que se tornasse impraticável que, em situação de doença avançada que implica sofrimento físico/social/psicológico/, estes doentes pudessem ver respeitado seu desejo de permanecer até ao fim da sua vida na sua casa, junto das suas famílias (o que, naquela altura, era impedido em ambiente hospitalar).
Em contraste com esta realidade, a Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (APCP) tem acesso a dados de algumas equipas comunitárias de suporte em cuidados paliativos que mantiveram a sua atividade durante a pandemia, notando-se nesse período um aumento da percentagem de pessoas a falecer no domicílio, e de acordo com as suas preferências.
O estudo hoje publicado evidencia aquelas que são insuficiências que a APCP tem vindo sistematicamente a reportar, devendo fazer equacionar as opções estratégicas e a prioridade dada ao desenvolvimento de uma Rede Nacional de Cuidados Paliativos mais robusta e que chegue de forma atempada a todos os portugueses, onde quer que sejam necessários estes cuidados.
A APCP reitera assim o apelo aos governantes e decisores políticos para a criação, reforço e desenvolvimento das Equipas Comunitárias de Suporte em Cuidados Paliativos (de adultos e pediátricas). Este será imprescindível para a melhoria dos cuidados de saúde a todas as pessoas que se encontram em situação de doença grave avançada. e para a eficiência do Serviço Nacional de Saúde, num momento em que tanto se fala da importância de reduzir o número de doentes a recorrer ao serviço de urgência e de descentralizar os cuidados de saúde dos hospitais.
O estudo pode ser consultado no link: https://www.thelancet.com/journals/eclinm/article/PIIS2589-5370(23)00576-X/fulltext